2024-Junho-13 a 26
O Caminho da Fé é tão lindo, desafiador e mágico que assim que termina a peregrinação surge a vontade de refazê-lo. Alguns peregrinos dos grupos que participamos têm o mesmo sentimento, outros, saem pensando em nunca mais voltar, porém, depois de chegarem em casa e reviverem por fotos ou lembranças os dias de desafio vencido, as alegrias, o convívio do grupo e a experiência de fé, assimilam a riqueza do Caminho e começam a pensar em voltar. Muitos voltam.
Neste ano de 2024 foi a quarta vez que percorremos o caminho. O terceiro ano consecutivo contando com o eficiente apoio da guia Michele Coelho Viana (@caminho.fe).
O fizemos com o apoio dela em junho/2022, junho/2023 e junho/2024. Em 2017 o havíamos percorrido no mês de abril sem nenhum apoio conforme consta em postagem aqui no blog.
Normalmente quando se contrata um guia, espera-se que a pessoa cuide da logística, com a definição das etapas, reservas de hospedagens e demais serviços inerentes. Porém a Michele tem o bom hábito de extrapolar as expectativas e oferecer sempre mais. Não cabe ressaltar aqui os detalhes, para deixar o efeito surpresa a quem vier a percorrer o caminho com os serviços dela, mas podemos afirmar que é muito positivo e presente o seu apoio.
Michele sempre inclui um pernoite na cidade de Águas da Prata-SP, onde se inicia nosso roteiro, para que todos o peregrinos fiquem na mesma pousada e possam sair juntos no dia seguinte e, na noite anterior, organiza uma reunião para apresentação e orientações gerais sobre o roteiro e seus serviços.
Além das pessoas que iniciam em Águas da Prata o roteiro de 318 Km, Michele, por vezes, abre a possibilidade de se iniciar a caminhada na cidade de Estiva, num roteiro de 174 km, que atende aqueles que se sentem inseguros para percorrer os 318 km ou para os que não dispõem de tempo para o percurso completo. O que se tem visto é que a maioria dos que iniciam a peregrinação em Estiva, gostam tanto que se propõem a voltar para fazer o percurso completo em outra época.
Nós, por morarmos mais longe, sempre preferimos ir dois dias antes para poder descansar da viagem e conhecer a região, o que tem se mostrado uma boa opção.
Assim, neste ano a data do encontro na pousada estava marcada para o dia 12/06, com início da peregrinação para o dia 13/06, porém, nos programamos para chegar na cidade no dia 11/06. Estávamos indo a Clarice, meu primo Marcos Silva Caetano e eu.
Nas primeiras horas do dia 11 nós três tomamos o mesmo avião com destino a cidade de Campinas-SP. Lá, do aeroporto fomos em ônibus de traslado até a rodoviária de Campinas e então tomamos outro ônibus com destino a Águas da Prata-SP, desembarcando por volta das 13 horas. Seguimos para a Pousada do Peregrino para o check-in e saímos para almoçar.
Caminhamos um pouco pela pequena cidade e voltamos para a pousada para descansar.
No dia 12 caminhamos um pouco mais pela cidade, fizemos contato com peregrinos e bicigrinos de outros grupos ou que iriam fazer o caminho sozinhos. Na empresa Águas Prata, existente desde 1876, fizemos uma degustação das ótimas águas minerais saborizadas, acompanhadas dos deliciosos lanches existentes no bar da empresa.
Aos poucos os peregrinos de nosso grupo foram chegando e iniciamos os primeiros contatos ainda tímidos. Alguns peregrinos que já conhecíamos por serem "repetentes" tal qual nós também chegaram e ficamos todos na recepção da pousada em agradável conversa.
No horário definido por Michele fomos todos ao espaço do antigo refeitório da pousada e iniciamos o encontro onde ela passou as primeiras orientações sobre o caminho e nos entregou os kits com alguns itens do caminho. Os peregrinos se apresentaram ao grupo e a peregrina Edimara presenteou cada um com uma seta amarela feita em crochê por ela, com prendedor de chaves que penduramos, depois, nas nossas mochilas de caminhada. Recebemos nossas credenciais (documento importantíssimo nas rotas de peregrinação) onde vamos colhendo carimbos ao longo do percurso, representando nossas conquistas.
Então jantamos e nos recolhemos ansiosos pela manhã seguinte.
Para evitar fazer 'spoiler' da dinâmica empreendida por Michele em seus grupos de caminhada, vou omitir certas ocorrências. Seria muito bom poder relatá-las pois são enriquecedoras da vivência no caminho e repletas de emoções, porém, reduziria a experiência de pessoas que poderão vir a peregrinar com algum grupo formado por ela. Mas fica o aviso; o caminho com a Michele é bem mais do que o que segue abaixo. Nota: Agora criei expectativas para as pessoas (risos).
Michele leva no carro de apoio nossa mochila grande. Os peregrinos levam às costas uma mochila pequena com itens básicos para o dia, como capa, água, barra de cereal, proteína ou carboidrato, canivete, micropore para eventual necessidade, protetor solar, repelente e outros itens de necessidade pessoal. A mochila também serve para carregar os agasalhos que se tira durante o dia porque ao saírmos muito cedo para caminhar nesta época do ano está extremamente frio, saímos agasalhados e, conforme evolui a caminhada e o dia, a temperatura se eleva e necessitamos retirar alguns agasalhos como gorro, luvas, fleece, corta-vento, etc.
Sobre o Caminho da Fé:
O Caminho da Fé é uma rota de peregrinação que possui diversas rotas, sendo a principal a que se inicia na cidade de Águas da Prata, em São Paulo, segue pelas serras de Minas Gerais, sendo a mais importante a Serra da Mantiqueira, retorna para São Paulo e termina na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, na cidade de Aparecida, em São Paulo. Esta foi a rota que percorremos. Possui 318 km de distância e é bem desafiadora pela altimetria, com muito ganho e perda de elevação todos os dias.
1° dia 13/06/2024 - Águas da Prata/SP --> Andradas/MG
32 KM, hospedagem: Hotel Della Inn
O primeiro dia já é desafiador porque tem itinerário de 32 km e por ter 812 metros de ganho de elevação, passando-se pela serra do Pico do Gavião.
Os primeiros quilômetros são de subida, sendo alguns deles quase imperceptíveis, mas sobe-se continuamente.
No quilômetro 11 está a Capela de Ferro e a Ponte de Pedra. A ponte de pedra fica fora da estrada e a capela de ferro é uma pequena capelinha. O peregrino desatento pode passar por ali sem se dar conta da existência de ambas. No local Michele costuma fazer uma parada de apoio.
A caminhada desenvolveu-se bem com paradas junto ao carro de apoio para abastecimento de água ou para um lanche ou fruta. Em determinado ponto se avista o Pico do Gavião e se passa pela bifurcação que daria acesso ao mesmo, porém seriam adicionados vários quilômetros e muita subida para visita-lo.
Depois de 24 quilômetros começa a descida.
Já perto de Andradas, no bar Oasis, experimentei pela primeira vez o suco do peregrino (não se assuste, o peregrino não vai para o liquidificador, rsrs), uma bebida densa sendo a mistura de açaí e água de côco, uma delícia e ótima para repor as energias.
Antes de seguirmos para o hotel passamos na Catedral para obter o carimbo na credencial e agradecer a Deus o belo dia e o êxito no percurso.
Depois da chegada e com banho tomado, a Clarice foi em uma lavanderia Self Service próxima ao hotel e conseguiu lavar e secar todas as roupas que usamos no dia.
Mais tarde o grupo se reuniu em uma pizzaria. Numa grande mesa, confraternizamos com muita alegria.
2° dia 14/06/2024 - Andradas/MG --> São Pedro da Barra, Andradas/MG
22 KM, hospedagem: Pousada João & Joelma
Neste dia já se percorre 10 km a menos que no dia anterior. Também o ganho de elevação é menor, totalizando 629 metros.
Na saída de Andradas há a vinícola Casa Geraldo. Dependendo do horário que se passa ali vale a pena entrar e visitar a loja, comprando um vinho e algum "belisco" para uma pausa na estrada com um brinde ou para levar e tomar na pousada, depois da caminhada.
No entanto, é neste dia que depois de cerca de dez quilômetros de caminhada subimos a Serra dos Lima, uma acentuada subida que põe em desafio nossa capacidade cardiovascular. Mas com paciência e muita água a subida é vencida e o prêmio é uma bela vista, em um mirante no alto da serra, voltado para o vale que deixamos para trás. Muitos fazem o almoço em um restaurante situado logo após o mirante.
Mais alguns quilômetros e se alcança a Pousada da Dona Natalina. Mesmo que você não vá pernoitar ali, vale fazer uma pausa para conversar, comer um pão com ovo, tomar um café e carimbar a credencial. Dona Natalina é sempre simpática e recebe bem aos peregrinos.
O percurso do dia termina com uma descida muito longa com um trecho íngreme que coloca bastante carga nos joelhos e exige atenção para não escorregar nos pedriscos ou areia.
Chega-se então ao distrito de São Pedro da Barra, para os mais íntimos, somente Barra, situado na divisa dos municípios de Andradas e Ouro Fino.
Já na pousada, a rotina dos peregrinos se inicia; banho, lavação de roupas, descanso, conversa, janta e cama para descansar e repor as energias.
3° dia 15/06/2024 São Pedro da Barra, Andradas/MG --> Inconfidentes/MG
31 KM, hospedagem: Pousada Morada do Sol
Saímos cedo porque seria um dia de trajeto longo. Já de início a subida do Morro do Sabão, para não esquecermos que estávamos em uma região de serras. Enquanto se sobe é indispensável parar e olhar para trás porque a vista é linda.
No Km 5,5, fizemos uma parada na Pousada Santa Catarina, do Sr. Zacarias, para tomar café e beliscar um pedaço de queijo, efetuar um pitstop no sanitário e colher o carimbo na credencial. Desta vez também tinha um excelente pudim.
Pé na estrada novamente e seguimos por mais dois quilômetros até o início do asfalto. Lá, uma van veio buscar o grupo e nos levou até as cercanias de Crisólia, no final do asfalto para não corrermos riscos.
Andamos aproximadamente mais sete quilômetros e chegamos ao trevo de Ouro Fino, onde está o monumento do Menino da Porteira. Ali em frente, na Parada da Manu, comemos o famoso pão com linguiça, carimbamos a credencial, descansamos um pouco e prosseguimos entrando no centro urbano de Ouro Fino. Visitamos a bela Catedral e seguimos pela Estrada dos Santos Negros e, no sobe e desce, por mais dez quilômetros rumo a Inconfidentes.
Inconfidentes é conhecida como a cidade do crochê. As árvores da avenida principal são "vestidas" com elaborados trabalhos neste artesanato.
Famoso também é o Bar do Maurão, ponto de parada obrigatório para peregrinos e ciclistas. Os pastéis são o caro chefe da casa e o pastel com massa de milho é o mais emblemático. Ao passar ali, além de provar o pastel e tomar uma cerveja, se faz necessário carimbar a credencial e assinar o livro de visitantes. O Maurão faz questão de procurar nos livros antigos a passagem do peregrino em anos anteriores.
Mas nossa pousada era fora da cidade e ainda tínhamos estrada para vencer. Mochila nas costas, cajados na mão e seguimos por mais sete longos quilômetros até a pousada.
Na pousada a rotina de sempre, banho, conversas, jantar e cama.
4° dia 16/06/2024 Inconfidentes/MG --> Borda da Mata/MG
15 KM, hospedagem: Pousada Nossa Senhora de Fátima
Acordamos cedo, tomamos o café, ouvimos a longa preleção e saímos. Na bifurcação que dá acesso à cachaçaria o grupo decidiu não efetuar a usual parada e seguimos caminhando para enfrentar uma leve subida.
Nossa primeira pausa foi na Parada do Kiko. Um momento para lanche, carimbo na credencial e sanitário.
Um pouco mais de caminhada e vencemos o Morro Caçadorzinho.
Chegamos cedo a Borda da Mata e fomos lanchar na Padaria Real em frente à praça da Basílica Nossa Senhora de Fátima.
Terminado o lanche, seguimos para a pousada onde tomamos banho, lavamos as roupas e as estendemos ao sol para secar. Os peregrinos aproveitaram a tarde para descansar, alguns ficaram na borda da piscina com as pernas na água para relaxar e conversar. Os demais formaram vários grupos de conversa.
Mais tarde a esperada e deliciosa janta para depois dormir.
5° dia 17/06/2024 Borda da Mata/MG --> Tocos do Moji/MG
18 KM, hospedagem: Pousada e Restaurante Beira Rio
Saímos cedo, junto com o sol. A oração foi em frente a pousada
Descemos até a Basílica, efetuamos uma foto e iniciamos o trajeto do dia seguindo as setas do caminho.
Após caminharmos quatro quilômetros, fizemos uma parada na Casa do Peregrino, ponto de apoio recém criado.
Depois caminhamos por alguns quilômetros apreciando a paisagem e curtindo o caminho. Na paisagem vão surgindo imensas áreas cobertas com plástico branco, demonstrando que estamos entrando na região das plantações de morango.
Iniciamos a subida para a Porteira do Céu, mas antes de chegarmos fizemos uma parada no ponto de apoio Família Nave para reunir o grupo.
Seguimos então, juntos, rumo ao topo. A Michele transmitiu por sua rede social a chegada dos peregrinos na Porteira do Céu, lugar emblemático do Caminho da Fé. Ali brindamos, comemoramos a conquista, tomamos suco de morango e tiramos algumas fotos.
Iniciamos uma descida e seguimos caminhando. Passamos pela Capela de São Peregrino e depois subimos mais um pouco para alcançarmos o ponto mais alto do dia (1220 metros). Nova descida e mais à frente passamos na Igreja São Francisco de Assis, onde paramos para um descanso e um lanche na Lanchonete Trem Bão que divide o mesmo pátio da igreja.
Por fim o último trecho e começamos a chegar em Tocos do Moji. A Clarice e eu estávamos passando pela avenida e escutamos nos chamarem pelo nome. Inacreditável, era a Renata, de Belo Horizonte, que havia percorrido conosco o Caminho da Fé em junho do ano anterior. Sávio, seu marido que também caminhara conosco no ano anterior estava na Pastelaria do Zé. Nos dirigimos ao bar e entre cervejas e pastéis, fomos colocando a conversa em dia. Aos poucos os outros peregrinos foram chegando e formamos uma grande mesa com o papo "rolando solto".
Infelizmente eles tinham reserva em uma pousada fora da cidade e tivemos de nos despedir, porém, não sem antes tirarmos uma foto junto com a Dercy, a fusca de estimação do casal (@dercy_a_fusca).
À noite, após o jantar saímos num pequeno grupo para dar uma volta pela cidade, porém estava frio demais e tivemos que retornar.
6° dia 18/06/2024 Tocos do Moji/MG --> Fazenda Velha, Estiva/MG
12 KM, hospedagem: Pousada São Francisco
Michele marcou para as sete horas, na frente da igreja, a reunião do grupo para passar as orientações. Fizermos a oração e iniciamos a caminhada.
Aos poucos fomos nos distanciando da cidade e as paisagens agradáveis foram aparecendo. Passamos em algumas grutinhas escavadas nos barrancos com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida dentro.
Por volta da 8h30m, passamos na Capela de Nossa Senhora Aparecida e além do carimbo, a tradicional foto em frente as asas no painel da capela.
Na paisagem que ia se mostrando a nossa frente as lonas brancas das plantação de morango já estavam por toda parte. Não são poucas as plantações.
Mais à frente, no distrito de Fazenda Velha, paramos na Padaria Recreio, famosa pelo seu proprietário, Sr. Afonso, ser torcedor fanático do Grêmio de Porto Alegre e ter feito o carimbo a ser colocado nas credenciais com o escudo de seu time. Evidentemente trolamos muito com o Brasílio, colorado fanático que não queria colocar o carimbo com a marca do Grêmio em sua credencial. Entrar na padaria e encontrar o Sr. Afonso é como fazer uma visita a um querido tio que mora distante. Impossível passar ali sem experimentar alguma das delícias produzidas por eles. Por sorte estavam saindo do forno doces e salgados, então "fomos engordando".
Alguns metros à frente, ainda na vila Fazenda Velha, paramos para almoçar no restaurante de Dona Fia. Esta parada se deu em vista de que o trajeto do dia seria curto e na pousada não haveria almoço.
Retomamos à estrada e seguimos caminhando até a Pousada São Francisco onde fomos muito bem recebidos como o fôramos nos anos anteriores. Depois do banho os peregrinos foram se agrupando em frente aos quartos tomando sol, apreciando a maravilhosa vista e conversando.
No meio da tarde fomos até a plantação de morangos do filho do proprietário da pousada onde pudemos degustar enormes e doces morangos.
Seguimos então para a bela capela da pousada onde rezamos o Terço da Misericórdia.
Ao final do terço uma grande e agradável surpresa; a visita de Luiz Carlos Caranza e esposa, peregrino de Curitiba que percorrera conosco o Caminho da Fé em junho de 2023. O terceiro caminhante do ano anterior que foi nos encontrar no trajeto do caminho.
No dia anterior Renata e Sávio. Neste dia Luiz Carlos e esposa. Isso nos mostra o quão especial é esse Caminho e o quão forte são as relações de amizade que se formam entre os peregrinos ao ponto de se deslocarem para reencontrar pessoas que conheceram durante a caminhada em anos anteriores.
No meio da tarde os proprietários nos serviram um delicioso café com pão e doces e ficamos conversando até o momento de seguirmos para os fundos do terreno da pousada para apreciar o pôr do sol.
Mais tarde o jantar e depois a merecida cama, porém, neste dia já com o corpo devidamente descansado.
7° dia 19/06/2024 Fazenda Velha, Estiva/MG --> Estiva/MG
16 KM, hospedagem: Pousada Serra Azul
Sabíamos que era necessário acordar cedo para apreciar o imperdível alvorecer que se faz no topo das distantes montanhas que compõem a paisagem em frente aos quartos da pousada. As fotos mostram um pouco da maravilha que ocorre naquele momento, porém, as imagens não conseguem passar a sensação da profundidade e as reações e sentimentos do momento. Só estando lá. E tivemos a graça de presenciar este momento pela terceira vez.
Tomamos o café da manhã com Luiz Carlos e esposa. Eles seguiram para São Paulo e nós prosseguimos no Caminho. Os olhares de Luiz demonstravam claramente sua vontade de ter prosseguido caminhando, porém seus compromissos não o permitiam.
A caminhada do dia se inicia em uma descida importante na região chamada de Pantano dos Teodoros.
Para não contrariar a regra, em seguida veio outra subida. No topo, a Capela do Padre Donizete que tem um providencial banheiro aos fundos.
Mais outra descida, esta de três quilômetros.
A caminhada do dia transcorreu tranquila, entre os apoios, as conversas e a apreciação da natureza.
Em Estiva um bom banho no hotel e depois, sentados no pátio, ficamos nos aquecendo ao sol entre conversas. Neste dia algumas pessoas iriam se integrar ao grupo. Expectativas de ambos os lados. Alguns contatos já iam se iniciando ali.
Ao final da tarde Michele reuniu todo o grupo e houve uma apresentação de todos com depoimentos emocionados.
Fomos então para o jantar e depois nos recolhemos aos apartamentos para descansar, afinal já tinha saído no grupo de WhatsApp que o café da manhã do dia seguinte seria às 5h30m.
8° dia 20/06/2024 Estiva/MG --> Consolação/MG
19 KM, hospedagem: Pousada da Praça (Paraisópolis)
Hoje estávamos saindo de Estiva já com os novos integrantes do grupo.
Após a descida da íngreme rampa de acesso ao hotel num frio de bater os dentes, atravessamos por uma passarela a rodovia Fernão Dias e na pausa para uma foto, um momento do choque entre a paz que já está instalada em nós e a loucura do trânsito que passa em alta velocidade sob a passarela. Pessoas e mercadorias correm para ambos os lados da rodovia.
Saímos, então, caminhando perpendicularmente à rodovia numa calma que neste momento se mostrou maior que antes.
Pouco depois o encontro com Júnior Marques, onde ouvimos sua interessante mensagem e retomamos o Caminho ainda refletindo sobre o que ouvimos.
No trecho deste dia há muitas plaquetas motivacionais pintadas por Júnior dispostas ao longo da estrada.
No distrito de Boa Vista passamos pela Capela de São Benedito. Paramos para uma foto e seguimos.
Passava pouco da 10 horas quando paramos na Lanchonete Janela do Céu, no alto de uma colina, para uso dos sanitários e um delicioso suco de morango.
Essa região da Serra do Caçador nos presenteia com lindas paisagens e é necessário parar algumas vezes para poder olhar para trás e curtir as belas paisagens. A peregrinação caminhando tem esse diferencial porque permite perceber detalhes que merecem ser curtidos com mais tempo.
O relógio marcava exatamente 13 horas quando passamos na placa Bem vindo à Consolação. A chegada se deu no restaurante anexo ao posto de gasolina.
Depois do almoço uma van veio buscar o grupo para levar até Paraisópolis para pernoite porque Consolação não dispões de hospedagem para grupos maiores. No dia seguinte a van nos traria de volta para reiniciarmos a caminhada em Consolação.
Em Paraisópolis ficamos hospedados na Pousada Praça que funciona em um casarão de 1888 e fica ao lado da catedral. Jandira e seu marido, proprietários, sempre atenciosos.
Depois do check-in, aproveitando tratar-se de uma cidade mais estruturada, saímos para um passeio com direito a café e doces e depois açaí com sorvete em conversa com amigos peregrinos. Aproveitamos e passamos no Shopping do Peregrino (como diz a Michele) porém é mais conhecido pelas pessoas como farmácia.
9° dia 21/06/2024 Consolação/MG --> Paraisópolis/MG
22 KM, hospedagem: Pousada da Praça
Tomamos o café às 5h20m e pegamos a van com destino a Consolação às seis horas. Neste momento da peregrinação ja estamos tão acostumados a caminhar que andar num veículo fica estranho. A viagem se torna longa pela ansiedade de chegar.
Diferentemente dos outros dias, quando caminhávamos para um novo destino, neste dia retornaríamos para a Pousada da Praça, em Paraisópolis e, assim, nossas mochilas haviam ficado no apartamento. Então não teria check-in ou espera pela mochila com o carro de apoio.
Tão logo descermos das vans, nos agrupamos na gelada manhã e tiramos uma foto do grupo e iniciamos a caminhada. A paisagem estava belíssima com a neblina, rendendo lindas fotos.
Perto da sete horas chegamos na casa de uma simpática senhora que aguarda os peregrinos com café, bolos e pães, um anjo no caminho.
Já com o céu azul, continuamos caminhando por algum tempo agasalhados, para só depois que o sol se impusesse ao frio, tirarmos nossos agasalhos.
E assim íamos vencendo os quilômetros absorvendo a beleza da paisagem, subindo e descendo nas serras do sul de Minas Gerais. Como costumo dizer, o Caminho da Fé não tem trechos planos; ou se está subindo ou descendo.
Apesar do calor a caminhada desenvolve bem num percurso com diversas capelas.
Às 10h55m chegamos na Capela Nossa Senhora de Fátima que fica no topo de uma subida importante. A capela tem um sino e não resistimos tocar um pouco.
Andamos mais 1,3 km e chegamos no Rancho do Tio Lauro, famoso por seu torresmo de barriga de porco. Nas vezes anteriores que passei ali, atendendo recomendações médicas deixei de prova-la, mas desta vez pedi uma porção e uma cerveja estupidamente gelada e não me arrependi.
Pouco mais de dois quilômetros de caminhada e chegamos no Restaurante Seta Amarela onde fizemos nova pausa.
Saindo dali iniciamos a descida do Mata Cavalo. A cada passo levantávamos poeira e era necessário cuidar para não escorregar.
Por fim, chegamos em Paraisópolis uma cidade realmente agradável.
A Michele combinou para nos reunirmos à noite no Vickings para fazermos um lanche.
Depois do lanche o anúncio do horário do dia seguinte: Café às 4h40m e oração em frente à Igreja às 5h20m, afinal seria o dia de subir o Morro do Canta Galo e parte da Serra da Luminosa.
10° dia 22/06/2024 Paraisópolis/MG --> Luminosa, Brazópolis/MG
28 KM, hospedagem: Pousada Dona Inêz
Conforme previsto o café foi servido às 4h40m. No momento de descer para o café é aconselhável que o peregrino já esteja pronto para sair pois é solicitado que ao sair do quarto para o café já se leve a mochila a ser despachada para o local indicado para ser colocada no carro de apoio. Assim, nosso despertar foi bem mais cedo.
Era noite, ou seja, não havia nenhum raio de luz solar no momento em que chegamos em frente à Igreja para fazer a oração e partir, mas logo apareceu uma tênue claridade.
Paramos no Cantinho do Peregrino para uso dos sanitários e um cafezinho. Mais à frente o grupo se reuniu para algumas fotos e seguimos curtindo a bela paisagem e a companhia dos amigos.
Houve outra parada com o carro de apoio onde Benê sempre solícito, nos aguardava com lanches e água.
Depois de 13 quilômetros iniciamos a subida do Cantagalo. É pouco mais que 300 metros de ganho de elevação, porém, distribuído em sete quilômetros o que o torna cansativo. Nesse trecho cruzamos a divisa, deixando Minas Gerais e entrando em território do Estado de São Paulo. No ano anterior fizéramos este percurso sob chuva.
Na localidade Cantagalo, o grupo fez uma parada no Bar do Gato. Alguns almoçaram ali. A Clarice e eu seguimos caminhando porque não temos o hábito de almoçar durante o trajeto de caminhadas, abrindo excessão somente em raros casos.
Veio então uma descida que em seu percurso se retorna novamente para o Estado de Minas Gerais e nos leva para a vila de Luminosa, pertencente ao município de Brazópolis. Fizemos uma breve pausa na queijaria Sulás e seguimos até a Igreja, na vila, onde aguardamos a chegada do grupo.
Todos reunidos, seguimos para a última etapa do dia, a subida de parte da Serra da Luminosa, a tão temida pelos peregrinos e bicigrinos. Nosso objetivo de hoje era ir até a Pousada D. Inêz para pernoitar, ficando o restante da serra para o dia seguinte.
A serra, como previsto, exigiu bastante esforço para vencê-la, mas bravamente o grupo chegou na capelinha que antecede a pousada, onde cada um fez sua oração.
Finalmente a pousada e o merecido banho e as sandálias nos pés para descansarem.
11° dia 23/06/2024 Luminosa, Brazópolis/MG --> Campista, São Bento do Sapucaí/SP
16 KM, hospedagem: Montês Pousada e Restaurante
Pontualmente às sete horas estávamos no mirante em frente à pousada para a oração da manhã diante daquela paisagem divina, com um grupo de pessoas fantásticas, prontos para a atividade que gostamos. Muito a agradecer.
Fizemos a oração, tiramos algumas fotos incríveis e partimos já em subida, afinal estávamos numa serra a famosa e temida Serra da Luminosa.
Conforme ganhávamos altitude a paisagem ia se abrindo e podíamos ver lá embaixo no vale o vilarejo de Luminosa e a parte final do traçado do dia anterior que havíamos percorrido.
Passamos no restaurante Oasis, conhecido por seu famoso omelete gourmet. Fizemos uma pausa ali e seguimos subindo.
Mais à frente, por volta das 9h30m, chegamos no Mirante da Luminosa, Pousada que possui um pátio aberto ao público, com um enorme terço pendurado e outros atrativos. Nova pausa, fotos e seguimos subindo.
Próximo das onze horas chegamos na divisa estadual, saindo definitivamente de Minas Gerais e entrando em São Paulo. A partir dali a subida principal termina e vem mais seis quilômetros em que a altitude sobe cerca de 90 metros, porém com várias ondulações.
Mais uma hora de caminhada e chegamos na placa que indica faltarem 100 km para chegar ao nosso objetivo, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
Passava pouco das 13h30m quando chegamos na Pousada Montês, em Campista.
Após o banho fomos almoçar no ótimo restaurante da pousada e interagir antes de nos recolhermos aos quartos.
12° dia 24/06/2024 Campista, São Bento do Sapucaí/SP --> Campos do Jordão/SP
20 KM, hospedagem: Mosteiro de São João
Saindo da Pousada Montês, em descida, caminha-se à margem de rodovia asfaltada sem acostamento e, assim, fomos em fila indiana. Pouco mais de dois quilômetros depois acessamos uma estrada de terra.
Logo à frente fizemos uma parada na Pousada da Rose.
Seguimos pela agradável estrada que oferece boas sombras e belas paisagens.
Por duas vezes o carro de apoio nos aguardava com água, frutas e cestinha dos prazeres.
Às dez horas estávamos no mirante que permite uma boa visão da pedra do Baú, distante na paisagem.
Já em Campos do Jordão passamos na Igreja de Nossa Senhora da Saúde para uma oração por aqueles conhecidos que necessitavam de atenção.
Mais próximo ao centro passamos na Empada da Rose, que serve excelentes salgadinhos. Fizemos um lanche reforçado porque nossa próxima alimentação seria uma sopa no Mosteiro.
Seguimos então para o Mosteiro São João. Por coincidência estávamos chegando exatamente no dia de São João e as Irmãs teriam uma missa cerimonial para a que fomos convidados.
Quando fomos ao refeitório, além da sopa as Irmãs haviam preparado uma surpresa com guloseimas de festa de São João.
13º dia 25/06/2024 Campos do Jordão/SP --> Gomeral, Guaratinguetá/SP
26 KM, hospedagem: Pousada do Agenor
Neste dia, além dos 26 km percorridos à pé, andamos mais 13 km em van. Esses treze quilômetros são na área urbana de Campos do Jordão. Desta forma, saímos do mosteiro nos veículos que nos levaram até o Horto onde se inicia a estrada de terra.
O café foi às 5 horas e a saída com a van às 5h40m.
O trecho inicial do caminho é em elevação. A saída se dá a uma altitude de aproximadamente 1500 metros e depois de oito quilômetros chega-se ao ponto mais elevado de todo o Caminho da Fé, com 1965 metros.
A partir deste ponto não há mais subidas significativas. Começa a descida. Neste dia o desnível negativo é de 1.430 metros e ocorrem nos 15 últimos quilômetros do dia.
A caminhada desenvolveu-se bem com algumas paradas junto ao carro de apoio onde Benê sempre nos atendia com muita atenção.
Em uma acentuada curva em descida paramos na simpática Capela Nossa Senhora Aparecida que dispõe de sanitários
Em determinado ponto do caminho encontramos um ciclista e, depois de um pouco de conversa, descobrimos ser sobrinho de uma amiga da Clarice.
A parada para refeição foi programada para os pontos Café do Caminho (lanche) ou Restaurante Encanto da Montanha (almoço). Esses estabelecimentos são contíguos. A Clarice e eu preferimos fazer um lanche para não caminhar os últimos oito quilômetros com o estômago pesado da refeição.
Ao chegarmos na Pousada do Agenor, nosso quarto ainda não estava pronto. E não estava pronto no sentido literal, não era questão da limpeza normal, os últimos detalhes da construção do apartamento ainda estavam sendo finalizados e seríamos os primeiros hóspedes a utilizá-lo. Interessante que em 2017 quando fizemos o Caminho da Fé pela primeira vez também ficáramos nessa pousada e ocupamos apartamentos recém construídos.
14° dia 26/06/2024 Gomeral, Guaratinguetá/SP --> Aparecida/SP
24 KM, hospedagem: Hotel Maria da Fé
Saímos antes das sete horas com uma sensação diferente da sentida nos dias anteriores; uma ansiedade no grupo por ser o último dia. Juntava-se um sentimento da proximidade da conquista do desafio por caminhar os 318 quilômetros com êxito, a alegria de chegar ao Santuário - a casa da mãe Aparecida e um pouco de tristeza por saber que estava terminando aquele período mágico em nossas vidas e a iminência de nos separamos.
Desta forma a caminhada passou a se dar em um ritmo mais acelerado que o normal. O fato de estarmos numa região mais urbana que nos trechos anteriores também a torna menos contemplativa e, consequentemente contribui para caminharmos mais rapidamente.
O trajeto seguiu tranquilo com uma parada junto ao carro de apoio, onde Benê, sempre solícito nos atendia.
Passava pouco das oito horas quando chegamos na Capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Potim e fomos muito bem recebidos com abraços, lanche e uma mensagem para o grupo.
Mais à frente, na localidade de Vista Alegre, Potim, paramos no Restaurante Caminho da Fé para o almoço. Neste dia era importante o almoço antes da chegada em Aparecida porque ao chegar na Basílica, teríamos várias atividades e parar para almoçar não seria interessante.
Seguimos novamente e próximo a entrada da Basílica nos reunimos para entrarmos todos juntos, momento que a Michele transmitiu em sua rede social, possibilitando aos parentes acompanharem a chegada.
Já no pátio da Basílica, nos parabenizamos mutuamente pela conquista, fizemos uma oração, recebemos nossos certificados e fizemos fotos para registrar o momento histórico de nossas vidas.
Participamos da missa das 16 horas e depois seguimos para o Hotel.
Neste ano, programamos ficar mais um dia na cidade para poder fazer algumas visitas a pontos de interesse que seriam impossíveis de efetuar no pouco tempo que sobra depois da missa.
dia 27/06/2024 --> Aparecida/SP
Neste dia, a Clarice, o Marcos, Liliam, Chiquinho e eu fizemos vários passeios. Efetuamos uma visita guiada na cúpula do Basílica e percorremos vários ambientes da Basílica para conhecer com mais detalhamento. Visitamos a Basílica antiga, passando pela passarela do peregrino. Andamos pela cidade e no centro de compras da Basílica.
dia 28/06/2024 --> Retorno
Acordamos cedo e, depois do café, fomos para a rodoviária onde tomamos um ônibus com destino a São José dos Campos. De lá, tomamos outro ônibus com destino ao aeroporto de Guarulhos. Essa estratégia facilitou muito o deslocamento porque evitamos ter que entrar no tumultuado trânsito de São Paulo para passar pelo Terminal Rodoviário do Tietê.
Enquanto nos deslocávamos as mensagens dos amigos de caminhada iam chegando no grupo de mensagens nos dando conta de que estavam chegando em casa, revendo a família, retomando a rotina.
Já no aeroporto, tivemos bastante tempo para efetuar o despacho das bagagens e fazer um lanche antes de embarcarmos com destino a Florianópolis.
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