Viagem: Recife



2011 - Abril, 10 a 17

Para esta viagem escolhemos como destino principal a cidade do Recife por ser uma das capitais brasileiras que ainda não conhecíamos. O objetivo principal da viagem era conhecer a cidade e visitar Caruaru, terra de mestre Vitalino e não uma viagem de veraneio.

O interessante do Recife é que sua história inicia-se praticamente junto com o descobrimento do Brasil, sofrendo influências de várias origens culturais como os índios, negros, holandeses e portugueses, cada grupo deixando suas marcas na cidade. Seu nome provém das faixas de recifes de coral que margeiam sua costa, formando piscinas naturais entre a praia e o mar aberto.



Recife possui uma população de 1,5 milhão de habitantes, saltando para 2,5 milhões se somarmos a população dos municípios de Olinda e Jaboatão dos Guararapes, que formam uma conurbação. Consideramos, acima, somente estes três municípios, porém os Pernambucanos somam 14 municípios como formadores da Região Metropolitana do Recife.

Na antevéspera da viagem vimos no Jornal Nacional uma matéria sobre fortes chuvas no Recife, com alagamentos enormes, fato que nos preocupou, visto que não gostaríamos de repetir a experiência vivida na recente viagem à São Paulo/SP.

Fomos num tranquilo vôo da GOL, sem atrasos ou percalços e desembarcamos com chuva fina no início da tarde de domingo (10/04), no Aeroporto Internacional dos Guararapes, de onde seguimos de taxi para o Hotel na Avenida Boa Viagem.

Após o check-in, fomos almoçar num restaurante na própria avenida. Como já era tarde e chovia, decidimos ir ao Shopping, fazer hora e comprar algumas guloseimas e bebidas para abastecer a geladeira do apartamento do hotel, deixando os passeios para o dia seguinte.

A Avenida Boa Viagem, onde estávamos hospedados, é um belo cartão de visitas da cidade, ligando Jaboatão dos Guararapes com o centro de Recife, contendo 7.800 metros de comprimento, muito bem urbanizados, com quatro pistas de tráfego, ciclovia, calçadão, estações de ginástica, arborização e praia. Toda a extensão do calçadão é servida por quiosques modernos e limpos, onde é possível apreciar a gostosa e gelada água de coco, após o passeio, caminhada ou corrida. Alguns quiosques ficam abertos 24 horas e sempre há movimento de pessoas.  percebemos ainda que há um cuidado especial com a avenida, visto que durante o dia e também à noite há trabalhadores cuidando da limpeza e da segurança. Há também ali, banheiros públicos com pessoas cuidando da limpeza.

Na segunda-feira pela manhã, caminhamos pela Avenida, sentido Centro, do hotel ao final da avenida onde inicia o bairro Brasília Teimosa. Foram 5,8 km de ida e o mesmo tanto na volta, todos passo-a-passo, observando os detalhes da arquitetura, do trânsito, do calçadão, da praia, dos recifes de corais e dos recifenses que por ali circulavam. Enquanto caminhávamos soprava um vento quente e em alguns momentos garoou um pouco.

O Bairro Brasília Teimosa está situado em um pontal entre o mar e a Bacia do Pina, formada pela foz do Rio Tejipió e recebeu este nome porque era ocupado por uma vila de pescadores que moravam em palafitas à beira do rio, de frente para o Centro da cidade e se chamava Brasília. Todos os anos a Prefeitura demolia as palafitas que em seguida eram reerguidas e, da repetição, tomou o nome de Brasília Teimosa.


Mais tarde fomos ao centro antigo, bairro Santo Antônio, onde visitamos o Mercado São José, também chamado de Mercado Popular. Ali, aglomeram-se muitos boxes separados por estreitos corredores, onde comercializam peças de artesanato, ervas medicinais e artigos de Umbanda. Já na outra metade do Mercado,  há comércio de gêneros alimentícios, tudo sem higiene e sem refrigeração. Assusta ver aquelas carnes já escurecidas penduradas ou largadas sobre o balcão num ambiente nada limpo. No lado externo há alguns restaurantes populares onde a higiene passa longe e servem pratos bem populares.


Casa da Cultura
Casa da Cultura


Conhecemos também a Casa da Cultura. Em uma antiga penitenciária erguida no século IXX, em estilo francês, com três blocos interligados num vão central, centenas de celas espalhadas em três pavimentos foram transformadas em pequenas lojas onde vendem principalmente, artesanato.


Surpreendidos por uma chuvarada, seguimos para Boa Viagem, onde conhecemos o Parque Dona Lindu, belo parque com projeto de Oscar Niemayer, contendo diversas esculturas, pistas de skate, playground, jogging, teatro e galeria de artes. O parque foi batizado com esse nome em homenagem à mãe de Lula, provavelmente em agradecimento ao ex-presidente pelo quanto de verbas Federais ele concedeu ao Estado de Pernambuco, seu Estado Natal, uma vez que é nítido que grande parte das grandes obras que se vê, têm a idade de seu governo.

Novamente surpreendidos com a chuva, retornamos ao hotel.


No dia 12, fizemos um passeio a Porto de Galinhas, famoso balneário ao sul do Recife, distante cerca de 60 quilômetros. Contratamos o tour na recepção do hotel, com saída marcada para as 8h30 minutos. Quando a van chegou, já passava das 9h20m. Pegamos um engarrafamento na saída do Recife motivado pelas ruas inundadas e seguimos sob chuva constante, em alguns momentos intensa, até a entrada do município de Ipojuca, onde fica o balneário de Porto de Galinhas.

Chegamos às 11 horas e fomos informados que não era possível ficar na praia porque a maré estava cheia. Não dava para fazer o passeio de jangada e o mergulho porque tinha muito vento e o mar estava mexido, com águas turvas. O agente de viagem informou que o retorno seria às 16 horas e que poderíamos fazer um passeio de buggy que levaria em torno de 2 horas e que nos levaria para conhecer as praias de Maracaípe, Cupe e Muro Alto. Por se apresentar como única alternativa topamos o passeio e fomos juntamente com um casal de Belém do Pará.


Passamos por vários coqueirais, belas praias, estradas e paisagens exuberantes e muito vento no rosto. Fizemos uma parada na praia de Maracaípe onde caminhamos um pouco e outra parada em Muro Alto onde ficamos parados por algum tempo e pudemos também caminhar na praia. Lá o casal do Pará chegou a tomar banho de mar. Muro Alto tem este nome em função do enorme recife de coral que forma um muro alto dentro do mar.

Ao final do passeio retornamos ao Restaurante Peixe na Telha, onde almoçamos comemorando nosso aniversário de 31 anos de casamento.



Caminhamos pelas ruas do balneário que nesta época do ano estão com pouco movimento. Achamos muito interessantes as galinhas feitas com coqueiros que estão instaladas na entrada da maior parte das casas de comércio local. Fizemos o banner acima utilizando a imagem de algumas destas galinhas.


Às 16 horas a maré havia baixado formando uma grande praia, já não havia vento e ondas fortes, o sol já brilhava desde o final da manhã, estando tudo de acordo para fazer o mergulho ou o passeio de jangada até as piscinas naturais ou até para curtir um banho de sol, mas era hora de retornarmos a Recife,  assim, ficou tudo para uma nova visita em outra viagem.

Em Pernambuco anoitece cedo. Por volta das 17 horas começa o lusco-fusco e, dependendo do dia, às 17h30m já está escuro. Assim, quando chegamos ao hotel, passando das 18 horas já era noite e fomos caminhar no calçadão. Bem iluminado, inclusive a praia onde em alguns trechos rapazes jogavam futebol.

Havia muita gente caminhando, andando de bicicleta, correndo ou só fazendo tempo sentados na mureta que divide o calçadão da praia. A ressalva fica por conta do velho hábito dos brasileiros de transgredir leis e vários ciclista andavam de bicicleta sobre o calçadão, mesmo tendo a sua disposição uma ótima ciclovia ali ao lado e os policiais assistindo a tudo sem intervir orientando-os a usar a ciclovia. Ao final da caminhada, fizemos um lanche e tomamos água de coco no quiosque que fica em frente ao hotel e que fica aberto 24 horas.

No início da manhã do dia 13, providenciamos a aquisição dos pacotes para assistir a Paixão de Cristo em Fazenda Nova e seguimos para o centro antigo, complementar nossa visita interrompida pela chuva da segunda-feira.

Visitamos diversas igrejas antigas, a Torre Malakoff (antigo observatório), a Sinagoga Kahal Zur Israel (primeira das Americas), a Praça do Marco Zero de onde partem 6 ruas, o museu de bonecos de Olinda, o Patio de São Pedro e caminhamos por diversas ruas observando os belos casarios antigos, em sua maioria em péssimas condições de preservação e alguns sendo recuperados. Fomos até a Praça da República, onde há um enorme Baobá (raríssimos no Brasil) que algumas fontes atribuem como a fonte inspiradora de Saint Exupéry no livro O Pequeno Príncipe.

Baobá - Praça da República
A Igreja cujo interior mais nos agradou,  foi a da Ordem Terceira do Carmo Santa Tereza d'Àvila, também conhecida como Igreja da Pinacoteca, que fica na Praça do Carmo, ao lado da Basílica de Nossa Senhora do Carmo. Construída a partir de 1.710, seu interior é todo decorado com painéis emoldurados com pinturas.

Ao entardecer fizemos um passeio de Catamarã pelos rios Jordão, Capibaribe e Beberibe, apreciando o centro de Recife por um novo ângulo, passando sob seis de suas 22 pontes e apreciando o Parque de Esculturas Francisco Brennand que fica instalado no molhe do porto. Foi um belo passeio. Simples, porém cultural. Enquanto seguiamos no passeio muitas pessoas que estavam sobre as pontes, dentro de ônibus ou caminhando pela orla dos rios acenavam para os passageiros do catamarã num gesto de extrema simpatia do povo do Recife.



À noite fomos na feirinha de artesanatos da Praça de Nossa Senhora da Boa Viagem e depois passeamos pelo calçadão onde provamos tapioca de carne de sol.

No dia 14, alugamos um carro e fomos a Caruarú, município distante aproximadamente 140 quilômetros do Recife. Tendo em vista que esta viagem já estava programada, levamos o GPS e foi fácil fazer o trajeto, seguindo pela BR-232 e ao final pela BR-104. Estava um dia ensolarado e a viagem foi muito tranqüila.
Feira de Caruarú
Chegando a Caruarú, fomos até a famosa feira de artesanatos onde percorremos alguns dos corredores. Ali tem de tudo. Artesanatos de cerâmica, madeira, couro, metal, pano, enfim de tudo que é tipo. ao redor da feira desenvolveu-se um comércio forte com diversas lojas e centros comerciais.
Não fomos ao centro novo de Caruarú, circulando somente pelo centro antigo onde o trânsito caótico e uma multidão de pessoas, vendedores, ambulantes, motos circulando pelas calçadas ou entre os carros, nos dava a impressão de estarmos na Índia, conforme se vê nos filmes e também nos mostrou a novela Caminho das Índias.

Após o almoço fomos conhecer a localidade de alto do Moura, terra de Mestre Vitalino (Vitalino Pereira dos Santos), tido como o precursor da modelagem de cerãmica figurativa no Brasil e autor de peças importantes, inclusive com trabalho exposto no Museu do Louvre, em Paris.

Clarice e a estátua de Meste Vitalino
Visitamos o Museu de Vitalino, instalado na casa que lhe serviu de moradia e de ateliê. Devido a fama das peças de Vitalino, hoje alguns de seus filhos, netos e sobrinhos vivem da mesma arte, assim como boa parte da população de Alto do Moura. Na localidade há muitas casas onde vendem artesanato em cerâmica e em algumas delas artesão trabalham em suas obras.

Chegamos em Recife já era noite. A Clarice decidiu caminhar no calçadão de Boa Viagem e foi surpreendida por um temporal e voltou totalmente encharcada ao hotel. A Clarice observou que nas duas vezes que estivemos no Ceará, choveu. Desta feita fomos a pernambuco e choveu. Ela chegou a pensar que o Governo Federal deveria nos pagar para viajar pelo nordeste para levar chuva.

A sexta-feira (15/04)  estava reservada para irmos assistir a Paixão de Cristo. Quando saímos de Florianópolis, não tínhamos planejado ir assistir a encenação. No vôo de São Paulo para Recife a Fafá de Belém (que interpretaria Nossa Senhora) também estava no avião e daí a Clarice se ligou no assunto. Em Recife vimos alguns cartazes e decidimos incluir este passeio no roteiro da viagem. A forma como costumamos viajar, sem roteiro muito estruturado nos permite fazer estas adequações e, pelo menos até agora, sempre temos obtido êxito em agir desta forma.

Tendo em vista que a saída do ônibus que nos levaria seria às 12 e meia, como costumam dizer os recifenses, fizemos uma caminhada no calçadão, indo novamente até o início da Brasília Teimosa. Aproveitamos para adquirirmos bolo de rolo que queríamos trazer para casa. O bolo de rolo, típico do Recife é um rocambole, porém com a massa muito fina. O tradicional é recheado com goiabada, porém, há também de doce de leite e de chocolate. É muito gostoso.

Após, passamos pelo hotel para o banho, fomos almoçar e seguimos para a agência de turismo que nos levaria para a Nova Jerusalém, em Fazenda Nova, município de Brejo da Madre de Deus, que fica para além de Caruarú, onde ocorre a encenação da Paixão de Cristo na semana que antecede a Páscoa.

Quando chegamos a Fazenda Nova já se aproximava das 17 horas e a encenação estava programada para iniciar às 18 horas.

O espetáculo da Paixão de Cristo em Nova Jerusalén iniciou-se de forma simples há 44 anos, por iniciativa de Epaminondas Mendonça e repetiu-se nos anos seguintes, sempre com a comunidade participando da encenação. A iniciativa foi tomando vulto e começou a ser frequentada por pessoas de outros municípios e também da capital. Certo dia Plinio Pacheco chegou na cidade e apaixonou-se pela atriz Diva, filha de Epaminondas, vindo a casarem-se. Alguns anos depois ele teve a idéia de construir um cenário definitivo reproduzindo as características reais e mudou-se para a cidade, viabilizando a idéia. Hoje é considerado o maior teatro ao ar livre do mundo.

Os cenários estão dispostos em torno de uma elevação onde se postam os milhares de expectadores e, contornando toda a área, há uma fortificação de pedras. No lado externo há um grande estacioamento e várias barracas de comércio de lembrancinhas e comidas.

O espetáculo é muito bem organizado. Os expectadores são recebidos por personagens fantasiados de soldados e cavaleiros, há uma estrutura especial para atender as pessoas com necessidades especiais, sendo reservada uma área para cadeirantes e há um sistema de rádio através de fones de ouvido para pessoas cegas.

O som é muito bom e também a iluminação. Quando o espetáculo inicia, apagam-se todas as luzes de apoio, permanecendo somente a iluminação de palco. Ao final de cada ato o palco se apaga e são acesas as luzes do ambiente onde se dará o ato seguinte. Então, o povo se desloca buscando aquela iluminação, sob a orientação do pessoal de apoio que os direciona com lanternas. Quando todos já estão posicionados, as luzes se apagam e, só aí, começa a encenação. São três horas de espetáculo, encerrando-se com uma queima de fogos. É uma experiência imperdível, independentemente das convicções religiosas de cada um.

A operadora que nos levou (MARTUR) programou a saída para 40 minutos depois do encerramento, dando tempo a quem quisesse fazer um lanche e também para que o trânsito fluísse e fizéssemos uma viagm mais tranqüila. Quando chegamos ao hotel passava quinze minutos da meia noite.

O sábado 16/04, amanheceu ensolarado e seguimos para Olinda. O taxi nos deixou no início da Ladeira da Misericórdia, bem próximo de um posto de informações turísticas onde obtivemos um mapa do município. Subimos a ladeira e visitamos a Igreja da Sé, onde se encontram os restos mortais de Dom Hélder Câmara. Por ali há várias lojas de peças de arte e de artesanato, com trabalhos de alta qualidade, bem melhores do que encontramos na Casa da Cultura. Circulamos um pouco e descemos a ladeira, indo explorar outras ruas secundárias, apreciando a beleza dos casarios e da paisagem.

Olinda é uma cidade fotogênica. Para qualquer ângulo que você direcione sua câmera fará uma boa foto.



Passava do meio dia e resolvemos subir novamente a ladeira para almoçar. O sol estava a pino e a subida era íngreme. Assim que chegamos ao restaurante pedimos dois chopes que vieram geladíssimos. Uma delícia. Um momento para ficar na lembrança gustativa por muito tempo.

Em Olinda, assim como no centro antigo do Recife, surpreendeu-nos a quantidade de igrejas existentes numa pequena área. A explicação se dá pelo fato de que muitas delas são de Ordem Terceira, ou seja edificadas e mantidas por particulares. No auge do período da cana de acúcar, os senhores de engenho eram ricos e construíam as igrejas em homenagem aos seus Santos de devoção.

Após o almoço percorremos ainda algumas ruas, conhecemos o Mercado da Ribeira, onde se comercializava escravos e hoje abriga lojas de artesanato, tomamos sorvete e visitamos a Igreja de São Bento, encerrando o passeio por Olinda.

Dali seguimos para o Shopping onde compramos uma lembrancinha para a Marina e encerramos o dia passeando no calçadão de Boa Viagem.

Domingo 17/04 - Dia do retorno. Neste dia fizemos uma caminhada e arrumamos a mala e seguimos para o aeroporto onde tomaríamos o avião às 12h30m. Porém um atraso na saída da aeronave quase nos comprometeu a conexão em São Paulo, tendo em vista que de São Paulo para Florianópolis viemos num vôo internacional que seguiria para Buenos Aires e o movimento na Polícia Federal estava intenso. Foi uma correria pelo saguão do aeroporto tentando seguir uma funcionária da GOL. No final deu tudo certo.


O Recife é muito mais do que conseguimos visitar. Há vários outros atrativos que deixamos de ver por falta de tempo ou por priorizarmos alguns passeios. É uma cidade agradável e receptiva que sabe acolher o turista.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Atenção: será que as carnes escuras que vocês viram não se tratavam de carne de sol, típica no Nordeste. Elas são salgadas e podem ser mantidas sem refrigeração sem estragar. Por isso, a a cor escura..